• sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

    ‘O que determina a importância de um evento é a forma como lidamos com ele’, diz Adam Jackson

    Jackson: método criado para vencer adversidades. Foto de divulgação
    RIO – O escritor, empresário e palestrante motivacional Adam Jackson desenvolveu o conceito do livro “O lado bom” a partir de um problema de saúde: aos oito anos ele foi internado com psoríase. E o estigma da doença o ajudou a contar histórias inspiradoras de pessoas – famosas ou não – que venceram adversidades.
    O que o levou às histórias do livro?
    ADAM JACKSON: Minha busca começou há mais de 30 anos, quando conheci dois homens extraordinários, ambos em cadeiras de rodas por causa de acidentes que deixaram um paraplégico e outro tetraplégico. Os dois viviam assim e de forma irreversível mas não da forma que eu tinha imaginado: a perda tinha sido terrível, mas ambos tinham certeza de terem uma vida mais preenchida, rica e feliz do que antes dos acidentes. A ideia de que perda, trauma e sofrimento poderiam ter um outro lado – ou seja: trazendo algo maior e positivo – me fascinou. É claro que todos ouvimos coisas como “o que não mata fortalece”, mas será que acreditamos nisso? Eu não. O outro lado, no entanto, é um fenômeno muito real. Quando uma pessoa sofre um trauma emocional, por exemplo, é assumido que haverá um quadro de estresse pós-traumático, que pode se manifestar como pesadelos, flashbacks, ansiedade e depressão, entre outros. Mas recentemente os psicólogos têm relatado um quadro reverso, de crescimento pós-traumático: muitas pessoas encontram oportunidades nessas experiências e seu sucesso não acontece apesar das dificuldades, está direta ou indiretamente ligado a essas adversidades. Essas histórias sempre me inspiraram e eu as colecionei ao longo dos anos. Nós tendemos a achar que ganhar na loteria é sempre bom e a perda, seja de que forma for, é ruim. Mas na maior parte das vezes estamos errados. A única coisa que determina se um evento é positivo ou negativo na vida é a maneira como lidamos com ele. Problemas e obstáculos na vida são sempre acompanhados de uma oportunidade equivalente. “O lado bom” traz algumas das histórias mais inspiradoras que demonstram como e por que algumas pessoas conseguem ultrapassar as piores adversidades. Histórias reais são muito poderosas porque nos identificamos com elas e somos inspirados pelos protagonistas. Eles nos fazem começar a ver e a acreditar em possibilidades para nossas próprias vidas.
    O que leva uma pessoa a levantar após um revés na vida?
    JACKSON: Há fatores e características específicas. Um dos fatores é o otimismo que é, em geral, fé no futuro. Esperamos ganhar na loteria, conseguir um emprego ou sobreviver a uma enfermidade – o que é completamente diferente de ser otimista em relação ao futuro e ter uma crença de que, o que quer que aconteça, tudo ficará bem. Pesquisas mostram que pessoas otimistas conseguem mais coisas ao longo da vida: são mais felizes, têm relacionamentos estáveis e duradouros, têm mais saúde e se recuperam de doenças mais rapidamente. Há outras questões, é claro. Pessoas que veem o lado bom das adversidades, em vez de perguntarem “por que eu?”, perguntam “qual a parte boa disso?”, “que desafios e oportunidades isso me traz?”, “como posso tirar vantagem disso?”. Outros fatores têm a ver com uma rede social forte, amigos e parentes que os apoiam – já que é muito difícil passar por um trauma sozinho. Entrevistar pessoas que transformaram uma experiência negativa em positiva me deu certeza de que elas compartilham fatores e características comuns.
    Sorte tem alguma coisa a ver com isso?
    JACKSON: O fator aleatório existe e tem grande impacto na vida, mas a maneira como lidamos com crises e dificuldades não tem nada de aleatório. Na verdade, a qualidade das nossas vidas tem muito pouco a ver com coisas que acontecem ou se parecem boas ou ruins. Essa qualidade é determinada pelas respostas aos eventos que acontecem nas nossas vidas. E, se pudermos entender mentalidade de uma pessoa, tanto sua resposta à adversidade quanto o resultado final são previsíveis. Ao analisar dez respostas simples de pacientes com câncer, pesquisadores puderam prever com 95% de precisão quais deles sobreviveriam só pela forma como pensavam. Sorte, portanto, tem muito pouco a ver com isso.
    Qual é a sua história preferida do livro?
    JACKSON: É muito difícil escolher uma história porque cada uma me inspirou em momentos diferentes da vida. Eu incluí histórias sobre pessoas extraordinárias ao redor do mundo – inventores, homens de negócios, médicos, celebridades, personalidades do esporte e até pessoas menos conhecidas – que ganharam sucesso através da adversidade. Algumas são histórias particularmente relevantes nos tempos difíceis que vivemos. Podemos ser inspirados por pessoas que perderam o emprego, a casa e, através da perda, criaram um futuro muito melhor. Uma das minhas preferidas é a história de Oscar Pistorius, o homem que nasceu com uma deformidade congênita nas pernas e, por aconselhamento médico os pais concordaram remover seus pés. Na infância ele brincava normalmente mas tinha que se esforçar para acompanhar seu irmão e seus amigos. Como resultado, ele desenvolveu uma força única que fez com que ele se tornasse um corredor recordista mundial e uma lenda esportiva. Em 2012 o veremos nas Olimpíadas de Londres. Não é inspirador?
    Que dicas o senhor daria para quem não está conseguindo ver o lado bom?
    JACKSON: “O lado bom” não é um guia para vencer as adversidades, mas uma coleção de histórias reais inspiradoras com lições que podem nos ajudar a ver o lado bom das adversidades em nossas vidas. Essas lições incluem:
    Ter fé no futuro: o otimismo é a única e mais importante característica que precisamos para aprender a vencer as adversidades. A qualidade das nossas vidas é determinada pelos níveis de otimismo, o que pode ser aprendido da mesma forma que o desamparo e o pessimismo.
    Focar no que se tem, em vez de pensar no que se perdeu: pessoas que venceram as adversidades não pensam no que não podem fazer e sim no que podem fazer.
    Questionar-se da forma correta: pensamentos levam à ação, que leva a hábitos, que levam à construção de caráter, que determina nosso destino. Nós criamos significados próprios para eventos da vida e a forma como lidamos com esses significados determina como nos sentimos e reagimos a eles. Para lidar de uma forma positiva com esses eventos precisamos nos perguntar “qual a parte boa disso?”, “o que posso aprender com isso?” em vez de “por que eu?”.
    É importante construir laços fortes com amigos e familiares: disso depende nossa qualidade de vida.
    Olhar para as oportunidades em qualquer situação: quanto maior o problema, maior a oportunidade que o acompanha.
    Lembrar que o futuro não é determinado pelo que acontece conosco e sim por como reagimos ao que nos acontece.

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